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terça-feira, 26 de junho de 2012

Sem medo de resgatar o que valeu a pena




Que mulher, na era das poderosas chapinhas, e dos variados baby lisses sairia na principal avenida da cidade exibindo seus pré-históricos  bobs  sem ser notada ? O que faz uma mulher preferir  uma forma trabalhosa  e antiga de modelar as madeixas ? Parece impossível imaginar uma cena semelhante no contexto atual,  em que no item  cabelo, a praticidade surge como uma exigência feminina .  Mas, acredite, é tão possível acontecer que sou a testemunha ocular do fato.

Imediatamente quando observei  uma jovem caminhando tranquilamente com seus enormes bobs  na cabeça pensei :  “parece  que não conseguimos abandonar definitivamente  aquilo que julgamos  ser velho, absoleto e ultrapassado. ‘”

Vira e mexe  recorremos ao baú para resgatar  o que outrora aposentamos  : uma bolsa fora de moda, uma calça surrada, um sapatinho cafona e por que não sentimentos , lembranças e pessoas que de repente começaram a fazer falta.  Será que cansamos rapidamente do novo ou só nos sentimos mais seguros próximos do que conhecemos bem?
Acho que na verdade nunca nos apartamos das coisas passadas, no máximo o que fazemos é guardá-las em um lugar  acessível caso resolvamos mudar de idéia. E geralmente mudamos. Decidimos viver a novidade, exploramos o que está saindo do forno, mas nunca deixamos de dar boas olhadas para o que ficou para trás.
 
E de repente, quando no auge de nosso êxtase  ao experimentarmos  o modelador de cachos mais moderno que existe , nos pegamos revirando o quarto á procura  de birilos e bobs que na nossa ótica é sim ainda a forma mais eficaz de deixar os cabelos mais bonitos. É por isso que somos tão fascinados por máquinas do tempo, porque estamos sempre querendo voltar,, reviver, relembrar, reelaborar, reexperimentar. Isso é nostalgia.

 E a  moça juazeirence soube bem protagonizar esse flashback, esse diálogo com o antigo, com o que pode ainda  ser útil  embora esquecido, ou apenas devidamente guardado . E ela seguia charmosa, sem medo algum de ser rotulada de  vovozinha. Vai ver, ela tem consciência que é possuidora de um poder interessante: saber recuperar o que um dia foi válido e útil.




Andréia Luciana  (Poetisa Insana)

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