Que mulher, na era das poderosas
chapinhas, e dos variados baby lisses sairia na principal avenida da cidade exibindo
seus pré-históricos bobs sem ser notada ? O que faz uma mulher
preferir uma forma trabalhosa e antiga de modelar as madeixas ? Parece
impossível imaginar uma cena semelhante no contexto atual, em que no item cabelo, a praticidade surge como uma exigência
feminina . Mas, acredite, é tão possível
acontecer que sou a testemunha ocular do fato.
Imediatamente quando
observei uma jovem caminhando
tranquilamente com seus enormes bobs na
cabeça pensei : “parece que não conseguimos abandonar definitivamente aquilo que julgamos ser velho, absoleto e ultrapassado. ‘”
Vira e mexe recorremos ao baú para resgatar o que outrora aposentamos : uma bolsa fora de moda, uma calça surrada,
um sapatinho cafona e por que não sentimentos , lembranças e pessoas que de
repente começaram a fazer falta. Será
que cansamos rapidamente do novo ou só nos sentimos mais seguros próximos do
que conhecemos bem?
Acho que na verdade nunca nos
apartamos das coisas passadas, no máximo o que fazemos é guardá-las em um
lugar acessível caso resolvamos mudar de
idéia. E geralmente mudamos. Decidimos viver a novidade, exploramos o que está
saindo do forno, mas nunca deixamos de dar boas olhadas para o que ficou para
trás.
E de repente, quando no auge de
nosso êxtase ao experimentarmos o modelador de cachos mais moderno que existe ,
nos pegamos revirando o quarto á procura
de birilos e bobs que na nossa ótica é sim ainda a forma mais eficaz de
deixar os cabelos mais bonitos. É por isso que somos tão fascinados por
máquinas do tempo, porque estamos sempre querendo voltar,, reviver,
relembrar, reelaborar, reexperimentar. Isso é nostalgia.
E a moça juazeirence soube bem protagonizar esse
flashback, esse diálogo com o antigo, com o que pode ainda ser útil
embora esquecido, ou apenas devidamente guardado . E ela seguia
charmosa, sem medo algum de ser rotulada de
vovozinha. Vai ver, ela tem consciência que é possuidora de um poder interessante: saber recuperar o que um dia foi válido e útil.
Andréia Luciana (Poetisa Insana)
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