Coloquei o casaco roxo,
liguei a playlist do celular, encarei a noite moderadamente fria e sai sem
destino. Uma das raras vezes na vida que decidi não estar no controle. Nada
programado. Andei pelas ruas da cidade - já que uma leve neurose não me permite
dirigir tranquilamente -. Deixei as músicas tocarem de maneira aleatória, sem
aquele desejo compulsivo de selecionar as favoritas, ou ativar o replay. Lancei-me
a sorte, ao destino, ao acaso. O que procurava? Me encontrar, me curtir, me
surpreender.
A frenética corrida
contra o tempo, as inúmeras atribuições diárias e a pressa contemporânea subtraem-nos
momentos preciosos na nossa própria companhia. Programamos a vida numa agenda, seguimos um
roteiro, obedecemos a regras que outros impuseram como verdade e nos tornamos
reféns do relógio, de estereótipos , de todos os preconceitos, inclusive aquele que acende na nossa mente a plaquinha
com o rótulo “solitário” ao vemos alguém sozinho tomando um chope, por exemplo.
Vira-se a ampulheta e
começa tudo de novo. Os detalhes, as minúcias
e os intervalos passando despercebidos junto com os milésimos de segundos.
Quanta coisa deixou de ser vista, sentida, registrada, vivida, principalmente quando
se está na companhia de outra pessoa.
Não quero aqui fazer apologia a solidão, mas desmitificar a ideia de que
é impossível se divertir e se distrair sem estar necessariamente cercado de
gente.
Tem coisas que só você
sozinho poderá perceber e sentir. Na minha aventura, não tão épica a ponto de
fazer inveja a Camões, descobri tanta coisa: o quão gostoso é sentir o vento
assanhar o cabelo sem ninguém ao lado para me dizer que estou parecendo a bruxa
Keka , descobri uma música linda no
celular que até então não tinha escutado,
percebi mais detalhadamente que em menos de dez minutos a barca te leva não
apenas para a outra margem do São Francisco, mas para uma esfera cultural totalmente
oposta, vi pessoas que sobrevivem da
noite, degustei um autêntico acarajé baiano
enquanto recebia olhares, conclui que com um hippie você tem grande chance de ter um papo muito mais cabeça
do que com certos acadêmicos, rompi com preconceitos, sorri e sim, me diverti á beça.
Você pode dizer: “grande
coisa’’. E eu responderei: experimente! Na companhia de outras pessoas estamos distraídos
demais para captar o contorno dos eventos que nos rodeiam. Andar sozinha tem
suas vantagens e nem sempre é sinônimo de solidão. Opte por ser seu parceiro de
aventuras de vez em quando. Muitos devem ter achado que eu era mais uma sem
amigos, sem amor, ao me ver sentada na
orla de Juazeiro ,saboreando meu
espetinho - eu comi muito - e comprando mais um brinco artesanal, quando na verdade estava nesse
exato momento contrariando esse preconceito, me mimando e cruzando minha vida
com a de outras pessoas.
Voltei pra casa
pensando nas contradições da nossa sociedade. Em um mundo em que todos estão conectados, quase
sempre estamos off para nós mesmos.
Andréia Luciana ( Poetisa Insana )
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